Sobre este Leilão#8

Este lote de obras compreende trabalhos inéditos desde o final da década de 90. Alguns desenvolvem preocupações do inicio de percurso (anos 80), como os trabalhos a lápis-de-cera, de caracter lírico e narrativo; a série primitivista, com alusões ao antigo vocabulário indo-europeu; e o conjunto de pequenas pinturas geométricas, que o artista classifica como infraístas, ou abstracções marotas. 

Mais "ortodoxos" são os dois desenhos a tinta da china, dentro da tradição das gravuras quinhentistas e seiscentistas, com complexos jogos de texturas, a que podemos associar as 4 aguadas a sépia, feitas a pretexto de um colóquio sobre Espinosa e Llansol

Outro grupo, as obras sobre tela, ostenta jogos jocosos onde se enterlaçam esquemas explicativos, catálogos, bandas de côr, formas abstractas, jarras e fragmentos de documentos. Ou ainda, do mesmo período, uma simulação de uma página com ornamentos rocaille; uma paisagem misteriosa com bicho (crocodilo? hipopótamo?) e  uma corda num fundo dourado de onde ora se esconde ora emerge um pirata. 

Mais recentes são as aguarelas de pequeno formato que parecem sintetizar as obras "ortodoxas", agora a cores, numa técnica fluida e transparente que, paradoxalmente, insinuam volumes e opacidades. Estas últimas obras surgem em contraponto ao recente trabalho conceptual dos heterónimos de Pedro Proença, mais focados em questões de linguagem, de montagem, feminismo, tipografia, e novelização do mundo arte. Para o artista trata-se de manter todas as possibilidades em aberto, e, se o riso, ou a melancolia subjacente, parecem ser o elemento palpável à primeira vista, há sempre um fundo lírico a conjurar coisas, a derramar transformações e ensaiar encantamentos.

Pedro Proença, novembro 2020

Mercedes vidal